LUCAS VETTORAZZO
DO RIO
A Mocidade fez um desfile com diversas referências a corrupção no país, ainda que seu enredo tenha sido sobre dom Quixote. A ideia da escola, a penúltima a desfilar, era contar uma fábula quixotesca como se o personagem de Miguel de Cervantes tivesse chegado ao Brasil e encontrado as mazelas brasileiras.
Estavam presentes a corrupção, a ditadura militar, representada por um carro em forma de tanque de guerra, e a seca do sertão. O samba falou em “tenebrosas transações”, trecho da letra de “Vai passar”, de Chico Buarque, e arrematou no refrão com um “verás que um filho teu não foge à luta”.
A comissão de frente trazia um moinho de vento e quando a estrutura se abria revelava um poço de petróleo. Saíam de dentro da estrutura personagens sem cabeça que entravam em uma cela. Um deles vestia um terno vermelho. Houve quem achasse que seria uma referência à presidente Dilma Rousseff.
“É quem você pensar que é. Coloque ali [no personagem] o corrupto que você quiser”, disse o coreógrafo Jorge Teixeira. Questionado especificamente se era uma representação da presidente, famosa por usar terninhos vermelhos, desconversou. “Coincidência, não sei”.
Ratos saíam de um queijo suíço em um dos carros. Homens e mulheres carregavam maletas douradas de dinheiro. Notas gigantes de dólar ornavam um dos carros. Barris de petróleo estavam presentes em um outro. As diversidade de referências era tanta que as vezes confundia o público.
A escola não chegou a empolgar a arquibancada. Coube às duas principais celebridades da escola– Anitta, musa da agremiação, e Cláudia Leitte, rainha de bateria– a tarefa de arrancar aplausos. Ambas entraram e saíram da avenida rodeadas por um batalhão de seguranças.
Atrasada, a escola teve que correr para completar o desfile a tempo, encerrado após uma hora e vinte minutos, quase no limite do permitido –82 minutos. Houve problemas técnicos com o último carro.
A agremiação foi também uma das poucas nesse primeiro dia de desfiles a levar integrantes com os seios nus para a passarela do samba. Índias sambavam no alto do carro abre-alas, enquanto o público sacava seus smartphones para uma fotografia.
“Não dava para sambar porque o espaço era pequeno, mas o público aplaudiu e foi muito simpático”, disse uma das “índias” Vanessa Hoppe, 29. Natural de Santa Maria (RS), ela foi eleita miss bumbum em 2014. “Espero poder voltar para o desfile das campeãs”.