DO RIO
Dom Quixote chegou ao Brasil e viu que não se tratava propriamente de um paraíso. Aqui encontrou “manchas sociais”, páginas infelizes da história. Descobriu que terras tupiniquins testemunharam, por exemplo, longo período de escravidão, a ditadura militar e a corrupção dos dias atuais.
A Mocidade Independente de Padre Miguel cruzou a avenida com uma fábula quixotesca tropical. A escola uniu dois temas: as “manchas sociais do Brasil” e as comemorações de 400 anos do escritor Miguel de Cervantes, criador do personagem. Daí surgiu o enredo “O Brasil de la Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, sou Quixote Cavaleiro, Pixote brasileiro”.
São sete carros alegóricos, 4.000 integrantes e 38 alas a cruzar a avenida. A Mocidade foi a quinta escola a desfilar na madrugada desta segunda-feira (8). Um dos carros que chamou atenção é o que retrata a corrupção. Ratos de colarinho branco surgiram de buracos de um grande queijo suíço.
O carro abre-alas tem uma escultura de 18 metros de altura. Outros dois carros também chamam a atenção: um que retrata um navio negreiro e outro que representa a ditadura militar. O carro em formato de tanque que representa a ditadura surpreende com ilusionismo e movimentos inesperados.
Cláudia Leitte foi a rainha de bateria pelo segundo ano consecutivo. “Ser rainha me faz sentir desafiada. Que possamos fazer um lindo desfile e levantar o povo aqui no Sambódromo”, disse a cantora antes de entrar na Sapucaí a “TV Globo”. A cantora Anitta é a musa deste ano. O desfile é assinado pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Edson Pereira.
Antes da Mocidade Independente de Padre Miguel, passaram pela Sapucaí a Estácio de Sá, União da Ilha do Governador, Beija-Flor e Grande Rio. A última a desfilar nesta madrugada é a Unidos da Tijuca.
PETROLÃO E DILMA
Entre as referências à corrupção brasileira na crítica proposta pela Mocidade estão o petróleo e frentistas de postos de gasolina. Entre os personagens que representavam corruptos sem rosto havia uma figura de terno vermelho, peça frequente no vestuário da presidente Dilma Rousseff.
Perguntados se era uma referência, os integrantes da escola desconversaram. “Na verdade, estamos representando uma corrupção sem cara, cada um dê o nome que quiser”, diz um coreógrafo da comissão.
“Coloque o corrupto que você quiser ali”, afirma Jorge Teixeira, também coreógrafo. Sobre o terno, Teixeira respondeu que poderia ser apenas uma “coincidência”.
FICHA TÉCNICA
Enredo “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”
Comissão de Carnaval Rômulo Ramos, Marcelo Plácido e Rodrigo Pacheco
Carnavalescos Alexandre Louzada e Edson Pereira (Diretor Artístico)
Diretor de Harmonia Rômulo Ramos
Intérprete Bruno Ribas
Mestres de Bateria Dudu
Rainha de Bateria Cláudia Leitte
Mestre-Sala Diogo Jesus
Porta-Bandeira Cristiane Caldas
Comissão de Frente Jorge Texeira e Saulo Finelon
“O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”
Louco, apaixonado…
Voar, sem limites sonhar…
Desperta Cervantes do sono infinito
Que a luz da estrela vai guiar
Quixote cavaleiro delirante
Avante! Moinhos vamos vencer
Errante acerta o rumo da história
Pras manchas desse quadro remover
Pintar nessa tela a nova aquarela
E hoje enfim devolver
A honra do negro, a tal liberdade
Que sempre haveria de ter
Ainda é tempo eu vou contra o vento
Não há de faltar bravura
De Ramos à Rosa, Machado encontrei
Nos braços da literatura!
Vai na fé… Meu bom cangaceiro
“Ser tão” Conselheiro regando as veredas
Caminhando e cantando, seguindo a canção
Nas mãos uma flor pra calar os canhões
Faz clarear as tenebrosas transações
Lavando a alma da “Mocidade”
Lançando jatos de felicidade
Vencer mais um gigante nessa história surreal
Numa ofegante epidemia a qual chamamos Carnaval
Vem ser mais um guerreiro
Eu sou Miguel escudeiro
Dessa estrela que sempre vai brilhar!
Eu hei de cantar por toda vida
Minha Mocidade, escola querida
Nessa disputa…
Verás que um filho teu não foge à luta! (não)
Autores: Jefinho Rodrigues, Wander Pires, Marquinho Índio, J. Medeiros, Domingos Pressão, Jonas Marques, Paulo Ferraz, Lauro Silva e Lero Pires