KLEBER NUNES
DO RECIFE
Há 42 anos, Pedro Augusto da Silva faz uma pausa na vida de pescador para se dedicar ao aluguel de imóveis para o Carnaval em Olinda (PE). Ele já chegou a locar 70 casas em anos anteriores e hoje lamenta que, às vésperas da folia, tem mais de 30 ainda desocupadas, todas no centro histórico.
“Para pagar mais barato e não perder o Carnaval de Olinda, as pessoas estão formando grupos maiores até com amigos que conheceram na folia do ano passado. Assim, conseguem reduzir os custos de cada um no aluguel, mas isso faz com que sobrem casas”, conta.
Pedro também tem se deparado com devoluções de imóveis que estavam praticamente com contrato fechado.
“Não chega a 10% ainda, mas é um número alto de desistências. Em mais de 40 anos, eu não lembro ter vivido um ano tão ruim”, afirma.
Para não ficar sem faturar durante a folia, os proprietários foram obrigados a buscar alternativas —menos rentáveis. Ticiane Didier, por exemplo, oferece imóveis para empresas com contratos “day-use”.
A modalidade permite que pequenos grupos privados de interessados utilizem o espaço por 24 horas, com serviços previamente acordados, que vão da limpeza à alimentação, passando pela contratação de bandas musicais.
“Não posso falar em valor porque depende muito do que o cliente quer. E, do jeito que as coisas estão, tudo será negociado”, disse Ticiane.
Ela ainda negocia o primeiro andar do prédio, que, durante o resto do ano, funciona como café e ateliê.
“Na fachada eu vou vender bebidas. Acredito que terei 30% do faturamento do que consegui em 2014, não mais que isso”, afirmou.
A remodelagem do negócio também deve afetar a geração de empregos temporários. “Nós contratávamos cerca de cem profissionais. Este ano serão no máximo quatro”, disse Ticiane, que tem dez funcionários fixos.
Em Olinda, até os blocos estão sendo afetados pela recessão. O tradicional encontro de bonecos gigantes, por exemplo, que chegou a reunir 120 exemplares, neste ano terá apenas 80.
“Se colocarmos mais do que isso nas ruas, vamos ficar devendo”, disse o artista plástico Silvio Botelho.
Além da crise econômica, a epidemia do vírus da zika (que pode causar microcefalia) também tem levado turistas, principalmente grávidas, a evitar viagens aos Estados do Nordeste.
No Recife, o temor dos comerciantes é de que fantasias e adereços voltem para o estoque. “Cliente para perguntar o preço tem, mas para comprar está difícil. Tenho 25 anos de comércio, e sempre que faltavam 15 dias para o Carnaval eu tinha que repor as peças. Hoje está sobrando”, disse Luiz Alves.
Para Carlos Alberto da Silva, o calendário de 2016 também contribuiu para esfriar as vendas. “Carnaval no início de fevereiro é complicado, porque o cliente ainda está pagando débitos de dezembro e em janeiro tem muito aumento de preços”, afirmou.
Para não perder as peças, a estratégia nesta semana será negociar.
“Tenho fantasias com preços entre R$ 30 e R$ 60. Todas elas eu vou negociar com o cliente um precinho que seja bom para nós dois”, disse Eliane Balbino.