Heróis da resistência: Fantasiados, paulistanos se despedem do Carnaval após quase três semanas

Por blog alalaô

ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Muita gente botou a cara no sol, na chuva, segurou o xixi por horas, levou pisão adoidado, mas não arredou os pés dos blocos de rua.

Neste fim de semana, lá estavam eles de volta ao front.

Para aguentar tanta folia, nem precisava de superpoderes. “Alegria, amigos e amar o Carnaval. Neste ano, teve outro ingrediente: os blocos surpreenderam. Para o bem”, disse Maysa Pizzuto, 29, produtora de moda, vestida de Mulher-Maravilha, no bloco da Catuaba, um dos que sacramentaram o fim da festa, arrastando uma multidão pelas ruas da Bela Vista (na região central de São Paulo).

 

Maysa Pizzuto, 29, e Carolina Schers, 30, no bloco da Catuaba
Maysa Pizzuto, 29, e Carolina Schers, 30, no bloco da Catuaba

O Carnaval dela começou no dia 24 de janeiro com o show de Daniela Mercury. Ao todo, passou por 15 blocos. Mayra criou uma fantasia para cada dia de folia. “São Paulo é carente de atividades ao ar livre. Os blocos supriram parte dessa lacuna”, disse, para complementar: “Teve problemas, é claro. Faltaram banheiros, muitos deles estavam fétidos, e sobrou lixo.”

Pelas contas da prefeitura, cerca de 2 milhões de pessoas passaram pelo Carnaval de São Paulo. Uma pesquisa com foliões mostrou que 64% deles participaram dos blocos de rua pela primeira vez.

Não foi o caso da Mulher-Borboleta, veterana da folia. Sua criadora, a bióloga Carolina Schers, 30, diz que as pessoas estavam mais receptivas. “São Paulo tem essa coisa egoísta, mas o Carnaval mandou tudo pra cucuia.”

Para aguentar tanta farra, ela se alimentava antes e depois da festa. “E muita água”, contou a bióloga, sob sol forte e uma temperatura na casa dos 35ºC desse sábado.
só no ano que vem?

Nem o pé direito enfaixado sossegou a professora Giselle Vasilis, 34, fantasiada de “anjinho de Itu” —ela mede 1,84 m— no Primavera, Te Amo, outro concorrido bloco de sábado, em Pinheiros.

“Fui para o Rio. No meio do Sargento Pimenta, pisei em cacos de vidro. Levei cinco pontos”, contou. O incidente não permitiu que ela caísse no samba. “Vou no truque. Dou meus rebolados”, brincou. “Prefiro a dor no pé do que a dor na alma, em casa.”

Giselle Vasilis, 34, com cinco pontos no pé, no Primavera, Te Amo (Foto: Avener Prado/Folhapress)

 

A cerca de 20 passos dali, a estudante Carolina Guimarães, 20, já exibia a cútis corada depois de ficar três dias sem comer e parar no hospital por causa de uma infecção alimentar que pegou no Rio.

“Foi punk, mas estou recuperada. Não dava para perder esse Carnaval”, disse.

Na tarde ensolarada de domingo (14), o bloco Unidos do Swing anunciava na avenida Paulista o que nenhum folião queria acreditar: todo Carnaval tem seu fim. “O fenômeno dos blocos não vai estacionar”, defendeu o estudante Luiz Caturelli, 22. “O lugar deles —e o nosso— é nas ruas.”

Para essa turma, a contagem regressiva para o Carnaval 2017 já começou.