JULIANA GRAGNANI
DE SÃO PAULO
“Vai uma cervejinha aí?”, pergunta uma mestranda em história em meio a uma multidão num bloco de Carnaval de São Paulo. A poucos metros dali, um grupo de designers segura uma placa anunciando a venda de geladinhos.
Paulistanos aproveitaram a demanda por bebida no Carnaval para conseguir uma graninha extra. Alguns deles atribuem a adoção desse emprego temporário à crise no país; outros, à oportunidade de juntar diversão e renda num mesmo evento.
“A gente já vinha para se divertir. Aproveitamos para vender também”, diz Camila Lazarim, 28, formada em turismo e atualmente desempregada. Ela acompanhava a amiga —que faz mestrado em história e não quis ser identificada por medo de perder sua bolsa de estudos— no bloco Tô de Bowie, na terça (9).
Com os shots de gelatina batizada (R$ 1) e geladinhos de catuaba (R$ 3), conseguiram R$ 200 em dois dias. “Mas a gente bebe um pouco do dinheiro”, ri Lazarim.

O grupo de dez designers, por sua vez, conseguiu cerca de R$ 1.000 com a venda de geladinhos de catuaba, caipirosca e mojito nos seis blocos a que foi. O objetivo é arrecadar recursos para um encontro regional da profissão em São Paulo, explica a designer Carolina Domingues, 24.
A atriz Bruna Damião Lopes, 29, colou adesivos do símbolo de sua profissão, as máscaras teatrais, ao cartaz em que anuncia a venda de cervejas. “Não conseguimos sobreviver da arte e temos que fazer isso”, diz ela, credenciada pela prefeitura para essa função. “Pensava: ‘Se um dia eu ficar na pior, vou fazer isso sem vergonha nenhuma’. E foi o que aconteceu.”
Ela, o marido e mais cinco amigos foram juntos aos blocos em dois carros e se espalharam entre os foliões. Os R$ 2.000 arrecadados por ela até a última sexta (12), quando foi a um bloco no centro de São Paulo, servirão para pagar o aluguel e as contas de casa. No ano que vem, diz, não quer estar mais no Brasil porque “tá complicado”.
EMPREENDORISMO
Para Luiz Carlos Prestes Filho, que estuda a economia do Carnaval, a festa “mexe com o espírito empreendedor”, principalmente no Rio, onde o fenômeno já é observado. “Frente à crise, o brasileiro está buscando outras oportunidades de complementação de renda”, diz.
As amigas Bruna Santos, 26, e Marília Moura, 27, se inscreveram juntas na prefeitura “só para ganhar um dinheiro a mais”, ideia que tinham desde o ano passado.
Conseguiram pelo menos R$ 5.000 cada, em cerca de 15 blocos. Santos, formada em administração, estuda para concurso. Moura trabalha com importações. “Agora, sempre que der, vamos vender em diferentes eventos, como shows”, diz ela.

Três meninas perceberam outro tipo de demanda nos blocos de Carnaval de São Paulo. “Muita gente vai muito básica, sem usar fantasia. Vimos que era uma boa oportunidade para oferecer um serviço de maquiagem”, diz a publicitária Clarissa Machado, 28, demitida em 2015 da agência onde trabalhava.
Por R$ 10 a R$ 15, ela e duas amigas oferecem pintura com glitter, cola de cílios e outros desenhos no rosto. Segundo ela, no bloco Tô de Bowie, a procura foi tanta que os foliões chegaram a marcar horário. Até sexta, tinham conseguido um total de R$ 500. Ainda vão trabalhar no pós-Carnaval. “E em 2017 vamos voltar ainda mais estruturadas”, afirma Machado.
“Como estava precisando de uma grana para compensar uns gastos inesperados [pneu da moto que furou, cartão de crédito com dívida da viagem de fim de ano], fiquei entusiasmada para vender”, diz Gabriela Capo, 23, formada em jornalismo e responsável pelas redes sociais de uma agência de publicidade.
Só que a empreitada não foi bem-sucedida. Ela não vendeu o suficiente para cobrir seu investimento, feito não por causa da crise, segundo ela, mas para “tirar onda mesmo, aproveitar a festa para sair na vantagem”.