NATÁLIA ALBERTONI
DE SÃO PAULO
O Carnaval deste ano teve um pouco de tudo: cortejo-show com Elza Soares e Sidney Magal; uma legião de foliões-fãs com raios pintados no rosto para homenagear David Bowie, ou com peruquinhas vermelhas, para homenagear Rita Lee; temática brega, LGBT, artística. Teve até bloco de bairro que só tocava marchinha.
Se você também quer conquistar seu espaço na folia e botar a galera na rua no ano que vem, a gente te ajuda. A Folha conversou com quem três blocos da cidade: um gigante, um estreante e um que deu certo e voltou para seu segundo ano, para contar como criar um bloco de sucesso em São Paulo.

Não há muita burocracia. Para conseguir apoio da prefeitura –o que significa acesso a banheiros químicos, segurança e bloqueios da CET– é preciso apenas preencher um cadastro, aberto no segundo semestre, indicando o nome do grupo, data cobiçada para o desfile e trajeto planejado do cortejo. Depois, são feitas reuniões para definir as datas e melhores opções para o desfile.
Para 2017, a Secretaria Municipal de Cultura prevê que o cadastramento comece entre outubro e novembro. É possível colocar o seu bloco na rua sem avisar, mas a prefeitura incentiva que os grupos entrem na folia oficial, para ajudar a organizar o Carnaval da cidade.
Custa caro?
Depende. O Ritaleena, que desfilou este ano pela segunda vez, em Pinheiros, gastou R$ 20 mil. As contas incluem aluguel de carro de som, decoração e brindes feitos para quem contribuiu com a vaquinha online no Catarse. Já o Acadêmicos do Baixo Augusta, que reuniu em torno de 90 mil pessoas na avenida Consolação, gastou R$ 200 mil.
Se os valores assustam, não desanime. Fazer campanhas de financiamento coletivos tem sido uma alternativa para os blocos arrecadarem dinheiro. Plataformas como o Catarse, Vakinha e Kickante recomendam entender o seu público, criar um planejamento de campanha e disponibilizar recompensas criativas.
Veja as dicas e programe-se.

Acadêmicos do Baixo Augusta
Queridinho de celebridades e da cena indie paulistana, tem Alessandra Negrini como rainha e Wilson Simoninha como puxador oficial. Fundado em 2009, percorria a Augusta, que ficou pequena em 2016. O bloco teve que migrar para a Consolação. E lotou todas as faixas nos dois sentidos da via.
A brincadeira ficou mais séria em 2014, quando foi criada a Associação Cultural Bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, ONG sem fins lucrativos e com o propósito de realizar a festa anual. O presidente do grupo, Alê Youssef, lista o que faz ele dar tão certo.
1) Lembre-se: é Carnaval. A proposta de fazer um bloco é a diversão, se começar a não ser divertido, você não está pulando Carnaval direito. Os foliões virão em conseqüência da diversão.
2) Música: cuidado com a parte musical é essencial. Música mal tocada por mais de 15 minutos é repelente.
3) Fantasia: Não perca a oportunidade dourada de sair na rua pintado de verde, de peruca. Vale tudo, pelo menos na época de Carnaval.
4) Amigos: você precisará deles em etapas da produção, como buscar o banner do trio, segurar a tua mão quando tua campanha de financiamento coletivo estiver ainda incompleta… Mas muito mais para dançar até o chão na hora da folia.
5) Trabalho: que é uma delícia, é. Mas dá muito trabalho, a produção demora meses. Serão semanas intensas de trabalhos, ensaios e tudo passa muito rápido. Nada fica bom sem empenho. Blocos de Carnaval não são diferentes.
6) Diálogo: são muitos os envolvidos no Carnaval. Moradores, prefeitura, CET, polícia, foliões, restaurantes, empresas, outros blocos. Dialogue e coloque-se na posição do outro, a folia não é folia se não for para todos.
7) Rua: os blocos de SP desfilam em espaço público, portanto, respeite o local por onde passam. Tente criar uma relação com aqueles que habitam o local. Ninguém quer ser lembrado pelo rastro de sujeira deixado.
8) Organize-se: antecedência e planejamento são essenciais. Organização financeira é primordial.

Cordão dos Mentecaptos
Exposição ambulante em formato de bloco, o cordão tem a cantora e performer Cibelle como puxadora oficial. Em sua estreia, o grupo teve o centro como cenário. Peças criadas por artistas para o desfile ficarão em cartaz na galeria Pivô de 11 a 27/2.
1) Construir uma boa história para o bloco. A narrativa é importante e deve ser concisa o suficiente para todo mundo saber o que vai rolar e, ao mesmo tempo, aberta o suficiente para que as pessoas fiquem livres.
2) Todo bloco que desenvolve a parte visual fica mais forte e memorável. O bloco deve oferecer elementos lúdicos para propor brincadeiras entre as pessoas e assim gerar interação.
3) A banda é importante, pois mantém o bloco pra cima. A qualidade do som tem que ser boa para chegar em todas as pessoas.
4) Ter bastante gente envolvida acreditando no bloco para divulgar no boca-a-boca.
5) A localização é importante. O centro de São Paulo tem bastante espaço físico para os blocos e é frequentado por todo tipo de gente.
6) A evolução do bloco tem que considerar o percurso, a velocidade que a banda anda, o volume de gente e as dimensões da rua. A organização do bloco tem que ser sensível a tudo isso.
7) Sobre o percurso, é divertido quando o bloco para em lugares importantes e presta homenagem ao entorno, como acenar para moradores em janelas ou festejar lugares históricos.
8) O bloco só deve sair quando a concentração já estiver quente e as pessoas prontas. Se demorar, as pessoas podem desistir e ir embora. Vale a pena investir na concentração pois é ela que dá o tom ao bloco.
9) Envolva os vizinhos e a comunidade. Fizemos uma divulgação especial do Cordão dos Mentecaptos para os moradores do Copan, convidando os vizinhos para a festa. Também foram feitas parcerias com os restaurantes Bar da Dona Onça e La Central.
10) Criar marchinhas originais para o contexto do bloco, que ressaltem o tema e a história da proposta.