JOSÉ MARQUES
AVENER PRADO
ENVIADOS ESPECIAIS A MARIANA (MG)
Pronta para desfilar com um enredo que fazia referências à mineração, a Acadêmicos do Barro Preto, de Mariana (MG), decidiu mudar o tema depois do vazamento de lama da Samarco. No domingo (7), os seus 300 passistas entraram na avenida cantando sobre o São João.
“A população estava muito desanimada com os acontecimentos, e a gente não queria falar de coisas que trouxessem tristeza”, explicou a coordenadora da escola de samba, Ângela Lopes.
Três meses após o rompimento da barragem de Fundão, que devastou os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu e deixou 19 mortos, Mariana fez um Carnaval com tímidas homenagens às vítimas e a tentativa de manter a tradição do município.
Das três escolas que desfilaram no domingo, por exemplo, somente uma, a Morro de Saudade, trazia citação à tragédia, que aparecia em um carro alegórico sem muito destaque, com a reprodução de um grafite da dupla Osgemeos, que retrata criticamente o drama das famílias que perderam tudo.
No dia anterior, a companhia de teatro Navegarte falou do tema de forma mais direta, com uma apresentação de bonecos que fazia referência a Bento Rodrigues –chamada “as pessoas que poderiam estar lá, mas não estão”.
Mas a prioridade da festa era mostrar que a cidade segue viva, apesar dos problemas. Nos palcos e nas fanfarras, bandas recorrentemente tocavam “Cidade Maravilhosa” –originalmente homenagem ao Rio– e depois gritavam “viva Mariana!”.
“Este Carnaval é importante para mostrar às pessoas que a cidade não foi destruída”, disse o prefeito Duarte Júnior (PPS), que insistiu em financiar a folia mesmo prevendo prejuízo à cidade devido à suspensão das atividades da Samarco.
O investimento na festa, no entanto, caiu de R$ 1 milhão (no ano passado) para R$ 400 mil (em 2016).
PALHAÇO
Até esta terça-feira (9), os principais blocos e atrações se apresentam nos arredores do centro histórico, que fica a mais de 20 km dos distritos da rota da lama.
Grande parte do público é formado por pessoas da cidade e por crianças, que assistem números de bonecos gigantes e de palhaços como o Furreca, responsável por uma trupe circense.
O palhaço, que se chama Eduardo Dias Romagnoli, 41, também quase desistiu da festa. “Eu fiquei muito abalado e pensei em parar de ser palhaço, até porque já fiz eventos para a própria Samarco. Mas o Carnaval é importante para dar alegria às pessoas e fazer elas agirem”, disse, após tirar fotos com crianças e adultos.
Já moradores dos vilarejos destruídos não organizaram comemorações. Uma turma foi para o distrito de Camargos, jogar bola e conversar. Outras pessoas preferiram ficar em casa. “Não vamos fazer nada”, disse a dona de casa Marly de Fátima, 31, que perdeu a mãe na tragédia. “Não tem animação.”