JULIANA GRAGNANI
DE SÃO PAULO
O centro de São Paulo reúne nesta terça (9) de Carnaval o maior número de hipsters com raios no rosto por metro quadrado. São foliões-fãs de David Bowie, morto no mês passado aos 69 anos.
Nunca a morte de um ídolo fez tão bem para um bloco: o Tô de Bowie foi criado antes desta notícia, e o público aumentou exponencialmente, segundo um dos organizadores, o designer Renato Souza, 27. O carro de som tem um Bowie-astronauta pintado; e um bonecão que imita o ídolo, feito de gesso, acompanha o desfile, que começou na praça Princesa Isabel.
Na altura da avenida Rio Branco, em direção do largo do Paissandu, ao som de “Under Pressure”, o desfile arrastou uma multidão, que cantava junto boa parte do repertório de Bowie, indo de “Heroes” a “Sound and Vision” e “Let’s Dance”.
O bloco, que começou morno e com pouca gente, já lota o largo do Paissandu por volta das 19h, com foliões animados e dançando bastante.
Há raios de todos os tipos –feitos com glitter vermelho, mas também roxo, amarelo, ou então de feltro. Nas camisetas, vale até o raio do super-herói Flash. Também há fãs com desenhos de sol na testa, outra alusão à fase Ziggy Stardust, como a relações públicas Ana Cláudia Russo, 26, de shorts espaciais prateados, muita base no rosto anguloso para cobrir as sobrancelhas e um círculo na face feito com sombra dourada.
“Agora que eu estou me recompondo. Choro todos os dias”, diz a auxiliar administrativa Fernanda Paradela, 32, de camiseta estampada de Bowie e um brinco em forma de raio. Ela mostra fotos do quarto dela: almofada, poster, vinis, tudo é de Bowie, até o fundo de tela do celular.
No meio do desfile, um homem com camiseta de Batman subiu no carro de som e fez um pedido de casamento à namorada, vestida de Branca de Neve, provocando reações animadas dos outros foliões. Ela aceitou, e os dois trocaram alianças em cima do carro.
Um astronauta com óculos escuros espelhados caminha pela multidão –a fantasia já havia sido usada em outros blocos, como o Tarado Ni Você. Para adaptá-la ao desfile pop, seu criador, o animador gráfico Eduardo Chaves, 28, “razoavelmente fã de Bowie” (sua música preferida é “Space Oddity”, claro), usou glitter dourado para escrever “Major Tom” no peitoral.
Há até um folião atualizado, que anda às cegas com uma faixa cobrindo os olhos e botões costurados por ele no caminho para o bloco, no ônibus. O rapaz, o designer Willian Acosta, 19, faz referência a “Blackstar” faixa do último álbum de Bowie, de mesmo nome.
Outro folião de peruca loira, maiô turquesa e muita purpurina dourada pelo corpo destoa da multidão. “De Bowie não entendo nada, só sei que ele morreu outro dia e tinha um raio no olho”, fala ele, o produtor Bruno Gonçalves, 32, que diz só acompanhar um amigo, mas que “queria mesmo era dançar axé”. Ao lado, um ambulante anuncia: “quer esquecer o que fez hoje? Olha a tequila!”