Blocosfera: Quem mora na cidade fica refém de blocos e multidões no Carnaval

Por blog alalaô

MARILIZ PEREIRA JORGE
COLUNISTA DA FOLHA

Mesmo que você se programe para um bloco ou para nenhum, se sair de casa, não tem escapatória.

Sexta, fui caminhar e, à medida que me aproximava de Ipanema, mais o calçadão ficava entupido e maior era número de ambulantes. Pisquei e estava no meio do bloco Rola Preguiça.
Não queria dançar, só andar, rolou preguiça, dei meia volta.

Na esquina de casa, as pessoas se apinhavam na calçada do Clipper, um boteco vizinho, dançando e cantando ao som de marchinhas. Mesmo com as janelas fechadas ouvia de longe A Pipa do Vovô Não Sobe Mais.

Sábado pela manhã, precisava ir a Copacabana. Dancei. E sem música. Cheguei à avenida Nossa Senhora de Copacabana na hora em que o bloco A Favorita dispersava. Cem mil pessoas. Nunca desviei de tanta gente bêbada e suada. E essas coisas só têm graça se você também está bêbado e suado.

À noite, de carro, caímos no meio dos restos mortais da Banda de Ipanema. Cenário para “The Walking Dead”. Muito lixo, gente bêbada, gente muito bêbada subindo até o teto do caminhão de lixo. Durante meia hora não saímos do lugar. Posso dizer que fui à Banda de Ipanema.

No domingo, fui a um bloco por vontade própria. Que Merda é Essa? Era o nome do bloco, mas foi o que pensei sobre o que se transformou o Carnaval de rua do Rio.

Blocos demais (505, 49 a mais do que no ano passado), gente demais, bêbados demais, sujeira demais, banheiros de menos, policiamento inexistente, trânsito caótico.
Ano que vem, me rendo ou viajo ou estoco comida e bebida para uma semana e não saio de casa.

Não tem como escapar. Quem mora na cidade virou refém do Carnaval.