Bloco perde força e rolezinho ganha espaço na madrugada

Por blog alalaô

PAULO GOMES
DE SÃO PAULO

A festa que ocorreu nas ruas de São Paulo após o fim dos blocos de Carnaval de segunda (8) teve como destaque um “rolezinho” não oficial no largo da Batata, na madrugada desta terça (9).

Os rolezinhos são festas em locais públicos, geralmente organizadas em redes sociais, frequentadas por jovens da periferia e onde se costuma tocar funk.

A festa desta madrugada foi, na verdade, fortuita. O vendedor ambulante Edvaldo Ribeiro Gomes levou ao largo uma caixa de som, um pequeno gerador para mantê-la funcionando e um pen drive cheio de músicas para estender a festa de seus potenciais clientes. Segundo Gomes, é um artifício para se destacar.

“Assim a festa vai mais longe. Como a gente trabalha com venda, tinha que ter um diferencial”, afirma o vendedor, que diz estar no largo desde as 16h de segunda. Entre as músicas que mais animaram o público presente estão hits do verão como “Camarote” e “Aquele 1%”, de Wesley Safadão (esta última, gravada pela dupla Marcos e Belutti com a participação do cantor cearense), “Metralhadora”, da Vingadora, e “Baile de Favela”, de MC João.

Gomes diz que procura diversificar na seleção musical. “O que o pessoal gosta mais é o funk, mas a gente tenta dar uma variada, coloca um forró, um sertanejo”, diz. A música ofuscou a banda de marchinhas que tocava em outro ponto do largo e terminou sua apresentação mais cedo do que na madrugada de domingo.

O vendedor afirma que sua festa termina quando abrir a estação Faria Lima do Metrô e a maior parte do público for embora.

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MOTEL CHEIO


Em frente ao largo, na rua Teodoro Sampaio, o motel Morumbi não tinha mais vagas para o pernoite. “Subiu em 30% o nosso movimento”, diz o recepcionista Jobson Rodrigo. “O pessoal vem das outras folias e fica aqui até às 6h.”

A reportagem não presenciou no rolezinho assédio masculino excessivamente grosseiro ou tentativas de estupro. Em janeiro, duas jovens foram estupradas em rolezinho no parque do Ibirapuera.

Camila e Júlia, ambas menores de idade, negam a ocorrência de abordagens como o beijo à força ou puxões pelo braço. “Assim não teve não”, dizem.

Tanto no largo da Batata quanto nas ruas da Vila Madalena, foi verificada a venda irrestrita de drogas. “Pó, maconha e lança. Ó o lança”, era repetido como um mantra por um vendedor no largo.

“Curte um LSDzinho?”, foi outra abordagem no local. O quadradinho de ácido lisérgico saía por R$ 30 –“de dia é R$ 50”, alerta o vendedor.

Na rua Girassol, outro vendedor abordou a reportagem para vender lança-perfume. Após a recusa, mas perguntado sobre o valor, o rapaz sugere que o repórter experimente a droga antes “para ver se é bom”. “Prova aí antes de falar de dinheiro”.

Ante a nova recusa e insistência sobre o valor, o vendedor suspeita. “Você é polícia? Ontem tomei enquadro de um cara igual a você que levou todas as minhas mercadorias. Por isso hoje estou querendo vender tudo, preciso recuperar. Tem lança, tem pó. Não quero nem saber se é playboy igual a você, bonito igual a você. Só quero vender”.

O lança-perfume, espirrado direto em recipiente, estava sendo vendido a R$ 10. “Por R$ 10 eu dou um grau bom na sua lata”, diz enfim, apesar de o repórter não portar lata qualquer.

PRAÇA ROOSEVELT


Na praça Roosevelt, uma roda de samba aglomerava um volume considerável de pessoas –mais de 200– e incomodou moradores, que chamaram a polícia.

Os policiais militares chegaram em dois carros por volta das 4h30, o que inibiu um pouco a cantoria, mas foi insuficiente para acabar com a festa. A PM ficou cerca de 15 minutos no local e foi embora sem conversar com os sambistas.

No túnel embaixo da praça, outra festa ocorria. O Quase Bloco reunia hipsters vestidos com motivos indianos, com sáris, saias e pintura facial.