JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
O cantor Saulo Fernandes (ex-Banda Eva) desponta no Campo Grande para o terceiro dos quatro desfiles que fará no Carnaval de Salvador.
Visto do alto, um tapete de gente se forma e se estende até o fim da avenida. Vestindo uma bata colorida, Saulo desce do trio e canta no meio da multidão, entre os foliões.
Sem a corda que separa pagantes de não pagantes, exalta o lema cantado por Caetano: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Mesmo contando com um público cativo que pagaria caro para seguir seu bloco, Saulo preferiu ousar: é o primeiro artista do Carnaval baiano a baixar de vez as cordas e desfilar somente de graça.
O movimento ganha força no Carnaval de Salvador: o fim das cordas dos blocos e os desfiles de trios gratuitos para os foliões.
Saulo engata uma música atrás da outra. “É a melhor pipoca”, diz Adeilson Cardoso, 39, que foi para a avenida com os dois filhos pequenos.
Neste ano, além de Saulo, também desfilaram para o folião-pipoca artistas como Bell Marques, Durval Lellys, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown.
Em substituição ao modelo pago, buscaram um modelo de patrocínio de empresas privadas, estatais e direto do governo e da prefeitura.
Ao todo, são cerca de 200 atrações gratuitas, entre os sete circuitos oficiais.
Sem os monocromáticos abadás dos blocos, parte dos foliões resgatou a antiga tradição das fantasias. Teve índio, pierrô, careta. E novidades com os temas do ano.
O professor e ator Ednelson de Deus, 31, foi com um grupo de amigos fantasiado de mosquito Aedes aegypti.
“Mas não precisa ter medo da zika ou da dengue. A gente só transmite alegria”.
A ideia do grupo é sempre homenagear a “personalidade do ano” (em 2016, o mosquito). Em anos anteriores, os amigos saíram de Peppa Pig e de Galinha Pintadinha.
ENCONTRO DE TRIOS
Na praça Castro Alves, a cerca de dois quilômetros do início do circuito do Campo Grande, Saulo encontrou a banda Baiana System para encontro de trios.
Foi a terceira apresentação gratuita no Carnaval de 2016 do grupo que mistura dub e reggae com batida do ijexá e som de guitarra baiana.
Na noite anterior, as bandas de metal Angra e Sepultura –também sem cordas– já haviam arrastado uma legião de roqueiros no circuito da Barra em cima do trio elétrico de Carlinhos Brown.
Com diversidade musical e mais espaço gratuito, o resultado foi um público de 1,2 milhão de pessoas por dia nos circuitos do Carnaval –contabilizado pelo número de passageiros de ônibus e táxis.
O folião de Salvador pede mais: “Quanto mais espaço para a gente, melhor fica”, diz Florisvaldo Bispo, no Campo Grande.