ARTUR RODRIGUES
FABRÍCIO LOBEL
DE SÃO PAULO
Os cem anos do samba também é o enfoque da Mocidade Alegre, que apresenta o enredo “Ayo –A Alma Ancestral do Samba”.
A sempre competitiva Mocidade Alegre faz um mergulho nas origens africanas do ritmo e sua repercussão no candomblé. A escola busca na África a temática para carros e fantasias.
O carnavalesco Sidney França faz menção aos orixás para mostrar a evolução do batuque até o ritmo certeiro da bateria –com destaque para sua linha de tamborim– comandada por mestre Sombra.
Nas palavras da presidente da agremiação, Solange Cruz Bichara Rezende, o grupo sai do “luxo teatral” e parte para o “rústico africano” em seu Carnaval deste ano. Na concentração, Bichara disse que o Carnaval vem para descontrair. Mas, em seguida, entoou um lema militar: “Missão dada é missão cumprida”.
O clima na escola é de disciplina para buscar mais um título para a escola, hoje no topo do ranking paulista. Em 2015, uma homenagem à atriz Marília Pêra, morta em dezembro passado, rendeu à agremiação o vice-campeonato do Grupo Especial.
Integrantes da Mocidade distribuíram bandeiras, muito disputadas pelo público nas arquibancadas, que canta com a escola durante a passagem da agremiação pela passarela do samba. Em determinados momentos, a bateria faz algumas paradas e o público vibra, aplaude e canta o samba-enredo da escola.
Sobre as várias paradas da bateria, Rezende disse que elas mostram que a arquibancada sabe cantar o samba da escola. “Carnaval é risco. Já pensou se todas escolas fossem iguais?”.
Outro destaque da escola é a rainha de bateria e instrumentista Aline Oliveira, que ocupa o posto desde 2012. A agremiação vem para passarela do samba com 3.500 componentes, 20 alas e 5 alegorias.
Um problema no eixo de um dos carros alegóricos logo na entrada da passarela do samba fez com que houvesse uma ruptura na compactação da escola. A presidente da Mocidade Alegre afirmou não ter visto o carro da escola com problemas. “Só vi a parte boa”, disse.
Na reta final, os passistas tiveram que acelerar o passo para não estourar o tempo. As agremiações têm que passar pela passarela do samba entre 55 minutos e 65 minutos para não perderem pontos.
Antes da Mocidade Alegre, passaram pelo sambódromo a Unidos do Peruche, que contou os cem anos do samba, a Império da Casa Verde desvendando os mistérios, a Acadêmicos do Tucuruvi, que falou sobre a religiosidade. Desfilam ainda nesta madrugada a campeã do ano passado Vai-Vai, Dragões da Real e X-9 Paulistana.
CONFIRA O SAMBA-ENREDO DA ESCOLA
“Ayo – A alma ancestral do samba”
Ôôôô… É a força de Ayo
No Ylê da Mocidade o samba chegou!
Ecoa o batuque do tambor
Kaô, Kaô meu pai Xangô
Kaô, Kabecilê Xangô
Com seu oxé, o poder do trovão
Liberta a força que emana energia e vibração
O corpo balança, a pele arrepia
A alma revela, o som contagia
Oyá… Seus ventos que sopraram pelo ar… Eparrei Oyá!
Na revoada encontra o novo mundo
E matizado com as cores desse chão
Salve a negra herança viva da nação
O batuque vem da Bahia… Tem axé
Espalhado na magia que vem de Oxumaré
Na Praça Onze, um canto livre no ar
Abre a roda pro samba
Tia Ciata mandou chamar
Em cada canto, profano ou sagrado
É transformado pelas mãos de Omolú
“A Voz do Morro” sou eu mesmo, sim senhor!
“Pelo Telefone” o Brasil revelou: “Eu sou o samba!”
Com a luz e a proteção de Ogum Guerreiro
Sou a nobreza que invade os terreiros
Eternizado em cada coração
E quando cresci fiz escola
Sou raiz, tenho história
E o povo aclamou
Colaborou SIDNEY GONÇALVES DO CARMO e JAIRO MARQUES