Paulistanos contam sua relação de amor com o sambódromo

Por blog alalaô

NATÁLIA ALBERTONI
DE SÃO PAULO

Em 2007, aos 20, Ana Lúcia Bianchi, 29, fez uma promessa ao irmão Rodolfo: “eu desfilo no sambódromo quando você fizer um samba para a Vila Maria [escola de coração da família] e ganhar”. Conhecido como Alemão do Pandeiro, ele, que começou trabalhando no barracão da escola da zona norte, já era compositor. Demorou, mas saiu. Seu samba-enredo “Teatro Amazonas Manaus em Cena” foi para a avenida em 2011, assim como Ana Lúcia. “Ele abriu a porta. Agora, desfilo todo ano”, diz aos risos a analista financeira.

Mas, em 2016, ela virou casaca (ainda que temporariamente, garante). Neste ano, Ana Lúcia veste as cores da Unidos do Peruche —a escola é a primeira a entrar no Anhembi, no sábado (6). A agremiação que subiu para o Grupo Especial em 2015 fez o convite a ela e a outras cinco amigas. A proposta incluía as fantasias, que saem normalmente cerca de R$ 300 cada. Um alívio para o bolso em tempos de crise. O motivo: “faltavam meninas”, lembra. “Vou trair a minha escola escola do coração”, diz em tom de brincadeira. “O pessoal [da Vila Maria] ficou chateado e disse que se eu estava sem grana, deveria ter avisado. Eles me arrumariam uma fantasia. Mas eu ganhei seis, não uma. E vou realizar o sonho das minhas amigas”, explica.

 

Ana Lúcia (à direita) com as amigas em 2014, ano em que a Unidos de Vila Maria caiu para o Grupo de Acesso
Ana Lúcia (à direita) com as amigas em 2014, ano em que a Unidos de Vila Maria caiu para o Grupo de Acesso

A preparação para a festa começa cedo. No sábado (6), ela não come nada muito pesado ou “diferente do normal”. “Lá não tem banheiro e o banheiro químico é muito ruim de usar, ainda mais com a fantasia”, alerta. Quando o horário vai se aproximando, nem água ela toma mais. “Cerveja, nem pensar”, diz enfática. Para garantir a maquiagem, faz um pacotão com a cabeleireira, que também cuida das amigas. Tudo isso para meia hora na passarela paulista do samba.

E por que tudo isso? “Quando você entra no Anhembi e passa pela bateria já é uma sensação emocionante. Parece que liga um botão dentro de você”, conta.  “Ao pisar na avenida, você sente aquela luz forte, vê os carros e as cores. É como se você se transportasse para um mundo mágico. Você se sente o máximo. É uma realização, um momento meu”, emenda.

Ana Carolina Vaitekaites, 32, analista comercial, experimenta algo semelhante. “Quando você está no carro e fica na altura do camarote e arquibancada, você olha para as pessoas e quando elas percebem, mandam beijo, cantam junto, dançam para você”, relata. Ela segue a Império de Casa Verde na avenida há três anos. “Tem todo um preparo. Você passa meses indo aos ensaios, experimentando sua fantasia, idealizando como vai ficar tudo no dia. É uma sensação muito gostosa”. 

Ela também teve um empurrãozinho para aderir ao sambódromo. A vizinha, que já desfilava, a convidou para acompanhá-la em 2014. Não foi preciso muito esforço. O difícil foi convencer o seu marido, Carlos, 36. “Ele é todo da música eletrônica, achava que não ia gostar. Mas topou. Hoje, tem vezes que eu não aguento ir à quadra [para os ensaios] e ele vai sozinho”, se diverte Ana Carolina. 

Em 2015, até o filho dela entrou na dança. Aos 8, idade mínima para desfilar, Pietro fez sucesso no sambódromo. “Desfilamos às 3h da manhã e ele estava pilhado. Saiu foto dele em um monte de site. O pessoal foi me mandando os links”, orgulha-se. Mas e como é tomar conta de uma criança na avenida? “Já na concentração, tem uma equipe de ‘tias’ que ficam responsáveis pela ala das crianças. O Pietro passa três meses convivendo com elas nos ensaios. Quando a gente chega, eu já o entrego para elas e não vejo mais. Só na dispersão”, explica.

No fim, para Ana Carolina, o trabalho e o custo (ela e a família se hospedam no Holiday Inn no dia do desfile) valem à pena. “É cansativo e se gasta bastante com hotel, ensaios, gasolina, camiseta, estacionamento. O que faz você querer ir de novo é a emoção que você sente na hora que a bateria toca. Quem foi e não gostou, não deve ser normal, não”.