Blocos perdem espaço para camarotes em Salvador

Por blog alalaô

JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR

Há dez anos, quem fosse a uma quinta-feira de Carnaval no circuito Barra-Ondina, o mais badalado de Salvador, teria como opções blocos comandados por Asa de Águia, Araketu, Cheiro de Amor, Banda Eva e Ivete Sangalo.

Em 2016, a principal atração do circuito é o cantor de forró Wesley Safadão.

Os blocos de Carnaval com trios elétricos cercados por cordas —nos quais o abadá pago vale como ingresso— estão cortando desfiles para adequar-se à demanda.

Eles têm perdido espaço para os trios que desfilam de graça, para os pequenos blocos que vão para a avenida com fanfarras e grupos de percussão e, sobretudo, para os camarotes instalados ao longo dos circuitos da festa.

Levantamento da Folha com a Prefeitura de Salvador mostra um cenário de estagnação dos blocos de trio. Em 2015, as entidades pagaram à prefeitura em ISS (Imposto Sobre Serviços) quase a mesma coisa que há dez anos: cerca de R$ 1 milhão.

Já os camarotes multiplicaram por quase seis o recolhimento dos tributos, saltando de R$ 373 mil para R$ 2,17 milhões no mesmo período. A taxa é calculada sobre o preço do ingresso e pela estimativa de público.

Os dados mostram uma migração do modelo de negócio do Carnaval de Salvador.

Entre os blocos, apenas os comandados por grandes estrelas do axé sustentam a mesma procura por abadás.

Neste ano, somente dois blocos vão desfilar três dias seguidos com o mesmo artista: Camaleão (Bell Marques) e Me Abraça (Durval Léllis).

O tradicional Cerveja e Cia cortou um dia de desfile, assim como os blocos Eva e Inter. Os blocos Eu Vou e Papa desfilam apenas um dia, e o tradicional Traz a Massa vai ficar fora do Carnaval pela primeira vez desde que foi fundado, em 1981.

“Alguns artistas estão desfilando menos por opção, outros porque não tiveram fôlego nas vendas. Mas não vejo uma crise, e sim um reposicionamento dos blocos”, diz Joaquim Nery, diretor da Central do Carnaval, maior empresa do setor de venda de abadás.

Para o produtor artístico Andrezão Simões, que tem larga experiência no Carnaval baiano, o modelo de negócio do bloco de trio com cordas tende a se tornar obsoleto. “Mas não será uma mudança abrupta porque não se faz Carnaval por decreto. A demanda vai determinar.”

 

Arte Carnaval
FESTA VIP
Na contramão dos blocos de trio, a procura pelos camarotes só aumenta. Segundo dados da Central do Carnaval, o volume de vendas está 20% maior do que em 2015.

Com ingressos que chegam a quase R$ 2.000 o dia, esses espaços VIP concentram-se no circuito Barra-Ondina, próximos dos principais hotéis de Salvador. No camarote Salvador, um dos mais procurados, 75% do público é de turistas.

“São foliões que valorizam o conforto e serviços como open bar, o que não seria possível oferecer em um bloco”, diz Luciana Villas Boas, diretora da Premium Entretenimento, dona do camarote.

Neste ano, artistas como Bell Marques e Carlinhos Brown farão shows em camarotes, numa situação impensável há cinco anos, quando apenas artistas menos conhecidos apresentavam-se nesses espaços.

Além das bandas de axé, tocarão artistas de outros ritmos, como Thiaguinho, Zezé di Camargo e Luciano e Titãs.