Após ano de instabilidade, escolas levam até panelaço ao sambódromo

Por blog alalaô

LUCAS VETTORAZZO
LUIZA FRANCO
DO RIO

Palhaços baterão panela no Sambódromo do Rio, numa alusão à insatisfação com a corrupção no país.

Essa foi a maneira que a carnavalesca Rosa Magalhães, da São Clemente, encontrou para falar de política na avenida, ainda que o enredo da escola não seja propriamente sobre o tema. Mocidade e Vila Isabel também terão alas que abordarão a política em seus desfiles.

A São Clemente, por exemplo, contará a história do palhaço nas artes. A última ala, no entanto, fará uma relação do personagem com a população brasileira. “Achamos que seria coerente termos uma ala sobre política em um enredo sobre palhaços”, disse Magalhães.

A Mocidade, cujo enredo homenageia Dom Quixote, fará crítica social ao Brasil.

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A escola sugere que o personagem de Miguel de Cervantes chegou ao país e se deparou com “manchas sociais”, como a ditadura militar (1964-1985) e a corrupção atual. Ratos de colarinho branco sairão de buracos de um grande queijo suíço sobre o carro alegórico.

A Vila Isabel homenageia o centenário do político pernambucano Miguel Arraes (1916-2005) e trata da criação, nos anos 1960, do MCP (Movimento de Cultura Popular).

O grupo, que fazia ações de educação popular, foi encabeçado por Paulo Freire, pedagogo considerado o patrono da educação brasileira.

As ideias de Freire foram criticadas como “doutrinação marxistas” em manifestações anti-PT no início de 2015.

“Há algum tempo politizar enredo não é tradição das escolas”, afirma o historiados Luiz Antônio Simas.

O ano foi também de crise econômica, que se fez sentir no Carnaval. As escolas cariocas estão com o caixa apertado: falta patrocínio enquanto aumentam os custos com a inflação e o dólar altos.

Nenhuma das doze escolas do grupo especial conseguiu patrocínio –nem aquelas que criaram enredos para obtê-lo.

A Unidos da Tijuca, por exemplo, fará carnaval sobre o agronegócio, enaltecendo o município de Sorriso, no Mato Grosso, o maior produtor mundial de soja. Acabou não conseguindo atrair o interesse dos investidores do campo, mas manteve o tema.

A União da Ilha fez enredo sobre os Jogos Olímpicos e não obteve ajuda da prefeitura.

Para driblar a falta de verbas, escolas tentam adotar soluções criativas. A Unidos substituiu as plumas, uma das partes mais onerosas do desfile, por plantas.

Já a Mangueira fez um carnaval mais barato: gastou cerca de R$ 9 milhões, R$ 3 milhões a menos que em 2015.
Fontes seguras de recurso, como o governo do Estado e a Petrobras, não  darão apoio.

A prefeitura repassará R$2 milhões a cada agremiação. Elas também obtêm fundos pelos direitos de transmissão do desfile pela TV, na venda de ingressos e em eventos.