Me dá um dinheiro aí: cada vez mais bloquinhos recorrem a financiamento coletivo para ir às ruas

Por blog alalaô

NATÁLIA ALBERTONI
DE SÃO PAULO

Há quase dez anos empurrando foliões pelas ruas de Pinheiros, o bloco João Capota na Alves, que costuma receber doações e já teve  até patrocínio de uma marca de cerveja, resolveu se organizar de um jeito diferente. Fez uma previsão de custo e, desde julho de 2015, conta com uma doação mensal de R$ 20 de seus integrantes mais ativos.

No início de janeiro, no entanto, as contas não fechavam. Faltando R$ 2.800 para adquirir elementos fundamentais da festa, o bloco recebeu uma proposta da Kickante (plataforma de financiamento coletivo) para criar uma campanha e aceitou. “Pinga no nosso copinho”, pede, bem-humorada, Lorena Vicini, 32, uma das idealizadoras do grupo.

Ainda falta dinheiro para pagar o carrinho de som e os carregadores. “E só. Não tem nada de lucro”, diz Vicini. Até a conclusão da reportagem, 47% da meta tinha sido arrecadada, faltando 11 dias para encerrar a campanha.

Desfile do bloco João Capota na Alves
Desfile do bloco João Capota na Alves

 

A iniciativa não é nova, mas atrai cada vez mais adeptos. Prevendo a tendência, a Kickante criou um canal para atrair idealizadores e apoiadores. Fabricio Milesi, 35, sócio-fundador do site Vakinha, também calcula um aumento gradual na procura. “Embora sempre tenham existido arrecadações de Carnaval, a utilização da plataforma tem se tornado cada vez mais comum. As campanhas vêm dobrando a cada ano”, diz.

Já o Catarse aumentou o valor de arrecadação nos últimos anos. Em 2013, foram R$ 55.862 para sete blocos. Em 2014, cinco blocos captaram R$ 45.516. Já em 2015, dez blocos fizeram campanhas e somaram R$ 131.771. Ainda não há previsões para 2016, mas segundo Vivian Costa, diretora de comunicação da plataforma, os valores devem ser bem maiores. Algumas campanhas já angariaram em torno de R$ 25 mil. O Bloco da Laje, de Porto Alegre-RS, coletou, sozinho, R$ 40 mil.

Desfile do bloco Ritaleena, que homenageia a cantora Rita Lee
Desfile do bloco Ritaleena, que homenageia a cantora Rita Lee

 

Em São Paulo, o Acadêmicos da Nove de Julho –com estreia marcada para o dia 31 de janeiro– já colocou R$ 10 mil no cofrinho, tudo o que pediu. Outros dez blocos paulistanos estão fazendo campanha por lá: Saia de Chita, Avisa Lá, Arrastão da Vila Guarani, Pimentas do Reino e Cordão Cacique, Jaraguá, Banda do Fuxico, As Virgens do Minhocão, Tarado Ni Você, Bastardo, Filhos da Santa e Ritaleena.

O último, caracterizado pela peruquinha vermelha em homenagem à Rita Lee, embarcou na ideia pela segunda vez. Em 2015, quando decidiram criar o bloquinho, as amigas Yumi Sakate, 36, e Alessa Camarinha, 32, já pensavam em usar o recurso coletivo para tirar a ideia da cabeça e colocá-la, literalmente, na rua. “Muitos amigos músicos já usavam esse tipo de plataforma. A gente não tinha nada e, para viabilizar, achou que era a melhor forma”, conta Sakate.

Desfile do bloco João Capota na Alves
Desfile do bloco João Capota na Alves

As meninas fizeram tudo com o apoio virtual que receberam. O repeteco da estratégia vai além das facilidades de crédito. “Decidimos fazer de novo porque foi se criando uma relação muito boa com as pessoas, que acabam se sentindo parte da coisa toda ao contribuir”, explica Sakate. Para retribuir o investimento, a dupla oferece contrapartidas bacanas, como porta-latinha térmica, sacolinha para levar documentos e, claro, uma peruca vermelha. “Tudo prático, para usar no dia”, complementa.

As opções de financiamento para esse tipo de iniciativa, normalmente, são mais flexíveis. Enquanto a campanha para a produção de um livro, por exemplo, tende a ficar no tudo ou nada —o idealizador só fica com o valor se atingir 100% da meta— um bloco pode receber o que acumulou ao longo dos dias. Viviane Sedola, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Kickante explica a confiança: “os blocos sempre ‘acontecem’, não dependem dessa meta. Acredito que o crowdfunding organiza algo que já era feito informalmente e amplia”.

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