Escola de samba Beija-Flor ajuda a ‘lavar’ imagem de ditador, diz ONG

Por blog alalaô

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Para o principal ativista de defesa dos direitos humanos na Guiné Equatorial, a Beija-Flor, escola de samba campeã do Carnaval carioca neste ano, está ajudando a “lavar” a imagem de um dos ditadores mais corruptos da África.

Com o tema “Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial”, a escola homenageou o país governando há 35 anos pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.

“A ditadura do presidente Obiang está sempre ansiosa por oportunidades como essa para mascarar sua repressão aos direitos humanos”, diz Tutu Alicante, diretor-executivo da ONG EG Justice (Justiça para a Guiné Equatorial) que está exilado nos EUA.

Segundo ele, o governo brasileiro “chegou à conclusão de que os petrodólares são mais importantes que dignidade humana”.

Ele lembra que mais de 75% da população da Guiné Equatorial sobrevive com menos de US$ 2 por dia. “Enquanto muita gente no meu país não tem acesso a água, educação, saúde ou comida, funcionários do governo, incluindo o filho de Obiang, Teodorin, estão em um dos hotéis mais caros do Rio esbanjando nosso dinheiro”, afirma.

Relatório de janeiro deste ano da ONG Human Rights Watch aponta que “receitas de petróleo custeiam um modo de vida luxuoso para uma elite que cerca o presidente, enquanto a maioria da população vive na pobreza”.

Segundo a entidade, o presidente Obiang tem feito doações consideráveis a organizações internacionais, contratou uma empresa de relações públicas e viaja para vários países, na tentativa de melhorar sua imagem.

No ano passado, o Brasil apoiou a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa, apesar de o país ser uma ex-colônia espanhola, em que menos de 1% da população fala um idioma derivado do português medieval.