BERNARDO MELLO FRANCO
COLUNISTA DA FOLHA
Deixe para lá a multidão da orla e os desfiles milionários e cronometrados do sambódromo. No Carnaval do Rio, a folia que interessa está no centro e passa longe do roteiro oficial da prefeitura.
É no perímetro entre o cais do porto e a avenida Beira-Mar, quase deserto nos outros feriados, que se concentram os melhores blocos. Encontrá-los pode ser difícil, mas o esforço sempre vale a pena.
Em alguns casos, a briga de gato e rato virou tradição. Na segunda-feira (16), um bloco “secreto” fez o décimo desfile sem pedir autorização ou divulgar horário.
Seu nome e trajeto mudam a cada ano. Em 2015 chamou-se Oh! Ménage, trocadilho tão travesso quanto os artistas do coletivo Opavivará, que montaram uma cama sobre rodas e a empurraram como carro alegórico, pregando o amor livre ao som do batuque.
A farra terminou com uma anárquica (e inofensiva) invasão do aeroporto Santos Dumont. A turma tomou o saguão cantando “Índio quer apito”, subiu a escada rolante e deu meia-volta antes da sala de embarque. Ninguém queria sair do Rio, é claro.
No centro também desfila o Boi Tolo, que nasceu quando foliões desavisados erraram o dia do Cordão do Boitatá. Alguém apareceu com tambores e pandeiros, e o cortejo saiu do mesmo jeito.
O bloco cresceu sem se tornar gigante e passou a monopolizar o domingo de Carnaval. Começa às 8h e não termina nunca, ou só na madrugada seguinte.
Os horários, por sinal, andam cada vez mais elásticos.
Neste ano, o bloco Amigos da Onça resolveu se concentrar às 4h da manhã de terça-feira (17). Para que dormir, se o Carnaval só dura quatro dias?