LUIZ FERNANDO VIANNA
COLUNISTA DA FOLHA
Foi ingenuidade achar que jurados não ficariam imunes ao patrocínio da Beija-Flor.
Em primeiro lugar, num evento comandado por contraventores, mafiosos e ex-torturadores, o apoio de uma ditadura africana sangrenta e corrupta não chega a destoar tanto —ainda que destoe da civilizatória história das escolas de samba, iniciada por descendentes de escravos.
E a orientação da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) é para que o julgamento seja técnico. Isso ajuda a entender por que a Beija-Flor, homenageando a Guiné Equatorial, recebeu três notas dez no quesito enredo.
O Salgueiro, que contou bem a história da culinária mineira, ganhou um 10.
E também explica por que já é o 13º título da escola: ela praticamente não erra. Mérito do chefe da comissão de Carnaval, Laíla, o homem que mais entende de desfiles.
Também foi ele quem conseguiu driblar a casca de banana do patrocínio e tratar no enredo de toda a África, não só da Guiné Equatorial.
Reconquistou os entusiasmados componentes, que não compraram em 2014 a ideia de reverenciar Boni.
Ainda assim, quando recordarmos o Carnaval 2015, será aquele em que venceu a Beija-Flor com dinheiro de uma ditadura africana.
E aquele em que a Portela causou impacto com paraquedistas e drones, mas esqueceu de caprichar no que conta pontos, como alegorias —com exceção para o Cristo Redentor em forma de águia.
E a Mocidade Independente parece ter enterrado o absurdo de se misturar as apresentações de comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira —não teve nenhum 10 nos dois quesitos.