JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
É sintomático quando um artista como Manno Góes —ex-baixista da banda Jammil e dono de um bloco de Carnaval— afirma que acabou o modelo de blocos com cordas que separam foliões que pagam dos que não pagam.
A atitude vai na contramão do cinismo dos que negam o óbvio: a crise no modelo de negócio do Carnaval baiano.
Há pelo menos dez anos, o melhor da folia baiana vem antes do Carnaval: na quarta-feira que antecede a de Cinzas, bandas de fanfarra e bloquinhos tomam conta das ruas da Barra. Neste ano, foram 200 mil pessoas nas ruas.
Desde o ano passado, outra iniciativa, o Furdunço, ajudou a arejar a festa: pequenos trios elétricos tomaram Salvador. E sem corda.
Longe das iniciativas de governos ou empresários, dezenas de bloquinhos pipocam pela cidade.
Já vi de tudo: desde blocos de travestidos no entorno dos circuitos a um bloco com cordas (mas com acesso livre) puxado por um carrinho de supermercado carregando uma caixa de som.
É bem longe dos holofotes que estão os elementos em falta no Carnaval oficial de Salvador: os bloquinhos, a beleza visual dos afros, a religiosidade dos afoxés.
Artistas famosos em trios são importantes, mas estão longe de representar uma festa popular da Bahia.
É só cruzar festejos como a Lavagem do Bonfim, em janeiro, ou Festa de Iemanjá, em fevereiro.
Terão à frente um caldo de cultura cheio de espontaneidade e com elementos que são a cara da Bahia.
O novo Carnaval de Salvador está aí, nas ruas. Só falta a coragem de quem o comanda para mudar de vez. O povo está fazendo sua parte.