Popularização da Vila Madalena gera rixa entre moradores e novos foliões

Por blog alalaô

THAIS BILENKY
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

Nesta segunda-feira (16), seis universitários saíram de São Bernardo do Campo, na Grande SP, levando um megacooler com 600 cervejas e uma caixa de som potente.

Desembarcaram na Vila Madalena, na zona oeste, e puseram Anitta para tocar.

Rapidamente, uma turma se formou ao redor. Três meninas fizeram uma rodinha e se beijaram. Outras duas tiraram a blusa para dançar de sutiã. Três meninos acompanhavam do outro lado da rua, igualmente sem camisa.

Em meio à festa, que acontecia na rua Fradique Coutinho, um casal que mora a uma quadra dali passa. O homem aponta para a caixa de som. “Você não mora aqui, mora?”, pergunta a um dos estudantes. “Pois é, tem gente que mora, e esse barulho incomoda. Vocês podiam ir para outro lugar.”

Foliões se divertem  no bloco Bregsnice, na rua Aspicuelta (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
Foliões se divertem no bloco Bregsnice, na rua Aspicuelta (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)

Os meninos abaixam o volume, e o casal vai embora. Minutos depois, o som volta a tocar no volume inicial.

O embate entre “estrangeiros” e moradores deu o tom do Carnaval na Vila Madalena. A Copa do Mundo tornou o bairro mais popular, e muitos foliões que o conheceram durante o Mundial voltaram.

Antigos frequentadores criticam. “Está desconfortável. Tem gente esquisita, meninas que não sentem frio, povo que vomita na rua”, reclama a professora Luísa Moscalcoff, 30.

“A Vila não tem nada a ver com o que está acontecendo agora”, diz a livreira Cordélia Ramos. “Tem exagero, drogas, bebidas, depredação.”

Quem trabalha na região relata a inconveniência pós-folia. O jardim do estabelecimento onde Nelson Enohata trabalha amanheceu imundo, com lixo, urina e fezes. Pilares foram pichados.

“O que aconteceu aqui prova que uma minoria não age de forma civilizada e não está preparada para aglomerações”, disse Enohata.

A Livraria da Vila amanheceu com fezes na área externa, segundo uma funcionária. Numa drogaria, foliões perturbam farmacêuticos pedindo para usar o banheiro ou urinando no estacionamento.

PAQUERA

Os foliões, por sua vez, elogiam a segurança na Vila Madalena e o acesso gratuito.

“Como a gente não tem dinheiro para ir ao sambódromo ou ao Rio de Janeiro, a gente vem pra cá”, diz a estudante Vitória Lima, 18, que mora na Vila Picinin, na zona norte. “Na Copa, não vimos briga, e droga… droga tem em todo lugar.”

A executiva comercial Bárbara Zeferino, 30, disse que saiu de São Bernardo e foi para a Vila Madalena porque é onde “tem mais muvuca”, além de “bastante polícia”.

A paquera é o motivo mais citado. O estudante Luan, 17, viajou uma hora de ônibus para “pegar umas minas” na Vila Madalena. Em Osasco, “só tem mina cansada [feia]”, diz. Para não perder a viagem, “se a mina quiser, nóis faz [sexo] num canto, né”, conta.

A prefeitura admite que a festa saiu de controle. “O bairro não comporta esse tamanho de evento. Precisamos, a médio prazo, desmontar essa bomba”, disse o subprefeito de Pinheiros, Angelo Filardo. Seis blocos foram autuados.

Colaborou PAULA SAVIOLLI