Salgueiro e Vila Isabel se destacam em desfile marcado pela chuva no Rio

Por blog alalaô

PEDRO SOARES
DO RIO

Na primeira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, a bolsa de apostas não se confirmou e Salgueiro –vice-campeã em 2014, mas que neste ano não figurava nas listas de favoritas– despontou como o principal destaque, com um desfile luxuoso sobre a culinária mineira.

Outra escola que se apresentou bem e não estava nas “cabeças” foi a Vila Isabel, que homenageou o maestro Isaac Karabtchevsky e a música clássica.

Ambas também foram favorecidas por passar pela avenida na segunda metade do desfile, que aconteceu sem chuva, ao contrário do cenário encontrado pelas três primeiras escolas. A Grande Rio também desfilou no “seco” e fez uma boa apresentação.

Penúltimo a desfilar, o Salgueiro trouxe carros e fantasias grandes, luxosos e bem acabados desde o início do desfile. Na comissão de frente, bailarinos representavam “índios enlouquecidos” que faziam acrobacias na avenida, segundo seu idealizador, o coreógrafo Hélio Bejani.

No abre-alas, seguiam as referências à cultura indígena. O segundo carro, que representava o garimpo de diamantes, foi o mais aplaudido. Na alegoria estavam os protagonistas da novela da TV Globo “Império”: Leandra Leal (Cristina), Alexandre Nero (comendador José Alfredo) e Lília Cabral (Maria Marta) –os três cantavam o samba e arrancavam gritos da plateia.

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Outra alegoria retratava a mineração de ouro. A culinária e os costumes mineiros também integraram o desfile. Até mesmo o samba, que não estava entre os mais comentados da temporada, cresceu na avenida e ajudou na apresentação da escola, que se destacou numa noite de desfiles sem grande brilho.

Sem grandes expectativas, a Vila Isabel, que em 2014 fez um desfile com muitos problemas, conseguiu fazer uma apresentação que agradou o público, a começar pela comissão de frente, composta por bailarinos (no chão) e acróbatas, que saltavam numa cama-elástica.

O enredo sobre Karabtchevsky permitiu ao carnavalesco Max Lopes criar fantasias e alegorias luxuosas e coloridas. No abre-alas, todo em dourado, vinha o maestro. Outro maestro foi retratado numa alegoria, junto a seu trenzinho caipira: Villa-Lobos.

Última a entrar na Sapucaí, a Grande Rio começou seu desfile com “truques” na comissão de frente, cujos componentes representavam os personagens de “Alice no País das Maravilhas” e foram “cortados ao meio” em determinado momento, virando um par de anões, que dançava junto.

O abre-alas, uma alegoria que ilustrava o enredo “A Grande Rio é do Baralho” e era formada por dois carros acoplados, teve problemas, deixando sua primeira metade sem iluminação.

Em todo o desfile, as referências aos jogos de cartas, adivinhações e povos que usavam cartas, como ciganos, foram uma constante.

CHUVA ATRAPALHA

A Mocidade Independente de Padre Miguel, tida como uma das favoritas, saiu do sambódromo sem a esperada aclamação popular, apesar de ter começado seu desfile bastante aplaudida.

Neste ano, a escola contratou a peso de ouro o carnavalesco campeão Paulo Barros, que veio da Unidos da Tijuca com a missão de levar a agremiação novamente ao seu auge. Para isso, criou um enredo que lançava a pergunta: “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia”, inspirado numa música de Moska. A resposta talvez não tenha sido a esperada.

A escola trouxe ainda à frente da bateria a cantora Claudia Leitte, estreando na Sapucaí.

Abatida pela chuva, a Mocidade fez um desfile sem grandes destaques e no qual as “surpresas” de Paulo Barros surtiram menos impacto do que em outros Carnavais. Em duas alegorias, o carnavalesco ousou ao colocar integrantes semi-nus. Em uma delas, casais e trios simulavam cenas de sexo –a imagem se alternava com “anúncios” de motéis fictícios.

Em outra, que representava a estação de trem de Padre Miguel, integrantes surgiam vestidos e tiravam a roupa na frente do público.

Também sob forte chuva, a Mangueira entrou na Sapucaí entre as favoritas, muito em razão do samba-enredo inspirado em uma música de Benito di Paula, “Mulher Brasileira”. “A chuva não nos preocupa. Era o que eu queria. Estamos vivendo a maior crise hídrica da história, eu quero mais é chuva”, disse Chiquinho da Mangueira, presidente da escola, antes do início da apresentação.

A escola começou bem, contando a história das mulheres da agremiação, com um abre-alas grandioso, nas cores da agremiação (verde e rosa) e com decoração em rosas. O carro foi precedido pela ala da baianas e o casal de mestre-e-sala e porta-bandeira. Da alegoria saía um odor de rosas.

A partir da metade do desfile, porém, a chuva pareceu minar o fôlego dos componentes, cujo fôlego já não tinha o mesmo vigor. Ao mesmo tempo, alegorias e fantasias perdiam o brilho e o luxo do primeiro carro e das alas iniciais.

Retratada em um carro que homenageava ainda cantoras mangueirenses, Alcione queimou o pé num refletor. Foi atendida no posto médico da dispersão e levada de ambulância a um camarote. Passa bem, segundo a equipe médica da prefeitura.

Primeira a desfilar, a Viradouro fez um desfile repleto de referências à cultura afrobrasileira. A escola usou como base de seu enredo dois samba do compostitor Luiz Carlos da Vila. Fundidas numa só, as composições não funcionaram tão bem e o samba não empolgou.

O que mais chamou a atenção foi a presença do tenista espanhol Rafael Nadal, que veio na ala de diretores à frente da escola, acompanhado do ex-tenista Gustavo Kuerten. Econômico nas palavras, Nadal se disse apenas “feliz e contente” por desfilar.