AUGUSTO DINIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Rei Canário vai às ruas. É o primeiro de uma dezena deles. Surgiu de um time de várzea de quase cem anos.
Enquanto alguns foliões brincam, outros chegam arrastando malas pelo centro histórico. Abrem-se alas agora para o bloco do Lençol. Uma multidão o segue vestida de roupas de cama.
A cantora Tânia Moradei lembra de quando saía às ruas numa Brasília, ao lado do compositor Galvão Frade.
Os dois são guardiães do pacto feito há 35 anos entre São Luiz do Paraitinga e o Carnaval. Pelo acordo, durante a festa só se podem tocar marchinhas produzidas na região. E muitos as conhecem de cor e salteado.
“Estamos ganhando cada vez mais público fiel”, cita Tânia. “Mas não sei se suportaremos tanta gente.”
Do primeiro para o segundo bloco o número de foliões cresceu de forma assustadora. Até terça terão passado 150 mil pessoas na vila de apenas 10 mil habitantes.
A tentativa este ano de terceirizar parte da organização da festa, para desafogar o caixa da prefeitura, não deu certo. No passado, Tânia recorda que uma cervejaria quis patrocinar o evento, mas a programação envolvia a montagem de um camarote com show do Bonde do Tigrão. “A população rechaçou na hora”, conta.
Enquanto isso, Galvão Frade corre de um lado para o outro para organizar a Festa de Momo deste ano. Um dos responsáveis pelo modelo do Carnaval da cidade, ele compôs a maioria das músicas.
No último bloco da noite, o do Lobisomen, ele mesmo carrega o estandarte do grupo para pôr em fila os moradores vizinhos ao cemitério.
Foi do pacto criado há 35 anos que o ressurgimento do Carnaval de rua neste ponto do país se tornou admirável.
AUGUSTO DINIZ é jornalista e produtor musical.