Durante o desfile do Cordão da Bola Preta, o maior bloco do Carnaval carioca, neste sábado (14), a garagem do edifício que abriga o Ministério do Trabalho e Emprego, no centro, virou um grande mictório. O prédio fica numa rua curta e sem saída, de pouco movimento. Se tornou quase irresistível para o milhão de foliões que brincaram no tradicional bloco.
Uma fila de foliões com bermudas abaixadas fazia xixi enquanto, atrás deles, uma equipe da prefeitura aguardava pacientemente. Quando se davam conta do flagra, os ‘mijões’ faziam uma expressão de desolação.
“Eu não vou dar meu documento. Não fiz nada errado, não sou marginal”, reclamava um mijão que não quis se identificar. A Folha acompanhou parte do trabalho dessa equipe no Bola Preta. No total, 50 homens e 18 mulheres foram autuados. Terão que pagar multa de R$170.
Desde a temporada pré-carnaval até as 20h deste domingo, 722 pessoas foram multadas.
Participam da operação funcionários da Comlurb (empresa de limpeza urbana), Seop (Secretaria Municipal de Ordem Pública) e Guarda Municipal.
“Os blocos de centro são os piores”, diz o subsecretário de Ordem Pública, Marcelo Maywald.
Ele diz esperar que este ano haja mais foliões multados do que em 2014, quando a prefeitura começou a multar mijões. “Neste ano estamos mais ágeis. No ano passado você tinha que levar o mijão até uma van. Agora você imprime a notificação na hora”, explica.
A autuação funciona assim: o agente registra os dados do mijão e imprime numa máquina parecida com as de cartão de crédito uma notificação onde há o número do processo. O mijão multado depois entra no site da prefeitura e segue as instruções para fazer o pagamento.
Caso o folião resista, ele pode ser levado para a delegacia.
Um dos flagrados foi Robson Sodré, 26. “É uma necessidade fisiológica. Olha só essa fila”, justifica, apontando para os banheiros, segundos depois de ser autuado por uma agente da Operação Lixo Zero, da Seop.
De fato, havia uma fila naqueles banheiros. Outros, a menos de 200 metros de distância, estavam vazios.
“Eu acho constrangedor. Você está lá se divertindo e, de repente, vem um cara e bota o troço para fora do nada. As pessoas trazem crianças. Não acho certo”, diz o folião Wesley da Cunha, 25, na saída de um banheiro químico.
Nos banheiros femininos, o problema era mais a sujeira lá dentro do que as filas, segundo as folionas. “A prefeitura até que limpa, e tem bastante banheiro, mas as pessoas não têm educação. Fazem xixi fora do vaso, entopem de papel higiênico”, diz Débora Vitor, 38.
Quando os foliões se justificam para as autoridades, muitas vezes evocam a ideia de que “o Brasil é isso aí”.
“É assim mesmo, tem um bando de gente roubando lá no meio, tem coisa muito mais importante acontecendo, e vocês ficam aqui, pegando a gente”, reclama Renan Carado, 21. “O Brasil é assim mesmo”, completa.
“Eles sempre reclamam que o Brasil é assim, que sempre tem alguém fazendo coisas mais graves e a polícia não vê. Mas esse cara que diz isso está contribuindo para esse Brasil do qual ele tanto reclama”, diz um guarda municipal que não quis se identificar.
Tipicamente a equipe da prefeitura atua nas ruas adjacentes à rua onde desfila o bloco ou alguns metros à frente do carro de som. É na dispersão do bloco que os mijões atuam mais.
A prefeitura instalou 24.525 banheiros para os 5 milhões de foliões esperados, mais ou menos um para cada 203 pessoas.