LÍGIA MESQUITA
DE SÃO PAULO
“Existe muito preconceito com pessoas acima do peso também na nossa comunidade gay. Por isso existe um subgrupo, o dos ursos, cheio de gordinhos”, diz o estudante de cinema Henrique Alves, 22, enquanto tenta seguir o Gaiola das Loucas no largo do Arouche.
O bloco LGBT, que fez sua estreia neste domingo (15) com um desfile pequeno (40 pessoas), prometeu coroar a nova rainha gay “plus size” do Carnaval, mas o concurso não aconteceu por falta de participantes.
Fantasiado de gueixa, o professor de ioga Guilherme Borges, 30, creditava o fracasso da competição à falta de divulgação e à ditadura da beleza. “Na nossa comunidade gordinho vira chacota. Não se vê a graça e beleza que existe, por exemplo, nos concursos de modelo ‘plus size’ hetero”, afirma.
Para seu amigo, o ator Reinaldo Cortazzi, 47, vestido de rei, “é a tirania do padrão de beleza que também domina a comunidade hetero”.
O “rolezeiro” Raul Mello, 24, diz que assim como os heterossexuais, muitos gays fora de forma não se aceitam e são rejeitados. “Eu tenho um monte de amigo que não pega gordinho. Todo mundo quer estar forte, sarado”, fala.
Presidente da Gaiola, o dono de bar Rey Neves, 54, acha que os gays acima do peso desistiram do concurso por falta de dinheiro para as fantasias. “É uma pena. Pensei em me candidatar mas aí seria marmelada”, diz o gordinho assumido.
DISPERSÃO DO ARCO-ÍRIS
Quando o Gaiola das Loucas deixou a concentração na esquina das ruas Frederico Abranches e Amaral Gurgel cerca de cem foliões participavam da festa. O cantor Velasquez Brown é quem comandava o carro de som entoando o hino do grupo com os versos “Na nossa gaiola entra ave sem qualquer distinção/ Pinto, pica-pau, pomba-rola/ peru, periquita e Gavião”.
Meia hora depois, um outro bloco passou no Minhocão, muito mais cheio, provocando uma debandada de mais da metade da turma do arco-íris.
Fantasiado com máscara e um modelo à la Madonna, com sutiã de cone preto, o estilista Gustavo Schoner, 35, ficou decepcionado com o tamanho do bloco. “Nossa, isso aqui não tá valendo a produção!”
Dançando sem parar com um cocar na cabeça, peito nu e um microshorts jeans, o coreógrafo Roberto Mafra, 40, deu de ombros para a dispersão. “No primeiro ano da Parada Gay só foram 150 pessoas. Na última, tinha mais de 1 milhão”, diz.
“Basta as pessoas quererem que a gente vive o progresso. É importante tem um bloco gay.”