JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
Quando Durval Lélys tocou o primeiro acorde no circuito Barra-Ondina na última quinta (12), em Salvador, marcou o término do ciclo carnavalesco do Asa de Águia.
Última das grandes bandas de axé a desfazer formação original, a banda encerra trajetória de 28 anos para dar lugar ao desfile solo de Durval.
As trocas por carreira solo ocorrem por desentendimentos com empresários, brigas ou busca por autonomia e controle sobre as atividades.
Há um ano, havia sido a vez de Bell Marques deixar o Chiclete com Banana. Assim como Durval, o recomeço se deu após três décadas de criação da banda original.
Assim como os dois líderes, Saulo (ex-Eva), Alinne Rosa (ex-Cheiro de Amor), Léo Santana (ex-Parangolé) e Tuca Fernandes (ex-Jammil) também deixaram seus grupos nos últimos anos.
“Por um lado, é um movimento de artistas que não querem o controle dos empresários. Por outro, atende ao desejo por mais liberdade criativa”, avalia o produtor musical André Simões, que trabalha com bandas de axé.
Durval Lélys e Bell Marques dizem que a saída das bandas serve como oxigenação nas carreiras.
“O Chiclete com Banana era muito cômodo para mim e já não me completava como artista. Poder recomeçar nesse estágio da minha carreira foi bastante revigorante”, disse Bell Marques à Folha.
No caso de Bell, contudo, a saída não foi amistosa e resultou numa ruptura do cantor com os outros membros da banda. Ao contrário do Asa de Águia, o Chiclete com Banana continua na ativa, com novo vocalista.
MODELO DE NEGÓCIO
Quanto a artistas mais jovens, como Léo Santana, Saulo e Alinne Rosa, a saída das bandas teve como objetivo deixar a tutela de empresários e produtores para construir um caminho próprio.
Saulo, por exemplo, saiu da Banda Eva em 2013 e criou a própria produtora, para gerir a carreira.
O modelo de negócio do axé —de conglomerados que incluem bandas, blocos, camarotes e produtoras— favorece o rodízio de vocalistas. As bandas são apenas mais um produto de uma holding.
A Banda Eva, por exemplo, já teve dez vocalistas durante quase 30 anos de Carnaval, incluindo Durval Lélys, Ivete Sangalo e Saulo.
O mesmo aconteceu com a Cheiro de Amor, que neste Carnaval estreia sua quarta vocalista, Vina Calmon.
A separação de artistas e bandas teve como principal reflexo a pulverização dos blocos de Carnaval, acirrando a briga constante por espaços nobres na fila da folia.
Ao sair do Chiclete, Bell Marques teve de criar novo bloco, o Vumbora. Claudia Leitte abriu o Largadinho, mas, sem espaço nobre na fila, se associou a Durval, ocupando na avenida o antigo espaço do bloco Me Ama —antes comandado por André Lélys, irmão de Durval.
Outra solução foi buscar parceiros. Saulo juntou-se à produtora de Ivete Sangalo, com quem passou a dividir espaço nos blocos Coruja e Cerveja & Cia. O resultado foi mais blocos nas ruas, que desfilam por menos dias.