Família de bicheiro volta ao Carnaval do Rio de Janeiro

Por blog alalaô

MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO

Quem entra na quadra da Mocidade Independente de Padre Miguel e olha para o alto logo percebe que o escudo, iluminado por várias lâmpadas, agora vem acompanhado por um castor.

O animal, que nos anos de 1980 e de 1990 era símbolo de poder do bicheiro Castor de Andrade, “capo” do jogo e do samba, agora volta à escola pelas mãos de seu sobrinho Rogério de Andrade, 51.

Ele tenta deixar para trás os processos a que respondeu na Justiça, acusado de patrocinar mortes na guerra pelo controle do caça-níquel, e dar fôlego ao domínio dos bicheiros ao Carnaval.

Afinal, os colegas de Castor que comandam hoje a festa estão octogenários e sem sucessores estabelecidos. Entre as 12 escolas que desfilam no Grupo Especial do Rio, domingo (15) e segunda (16), apenas outras três terão enredos pagos pelos bicheiros: Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Grande Rio.

No período pré-Carnaval, Andrade fez silêncio: “Ele não tem cargo na escola e não tem interesse em aparecer na mídia”, informa a assessoria de imprensa da Mocidade.

“A presença de um patrono é importante. Ele faz parte de uma equipe onde todas as decisões são em conjunto”, afirma Rodrigo Pacheco, vice-presidente da escola.

Em 1997, após o infarto que matou Castor de Andrade, a Mocidade, bem como o espólio do bicheiro, passou a ser disputado pelos herdeiros. O filho Paulo Andrade, o Paulinho, foi assassinado em 1998.

Rogério de Andrade foi apontado como o mandante. Em 2014, o Tribunal de Justiça do Rio o inocentou.

Em meio ao processo, em 2002, Paulo Vianna ganhou a eleição para a presidência e afastou a família Andrade do controle da escola. Até que, em 2008, Diogo, filho de Rogério, pediu ao pai a volta do clã ao Carnaval.

Em 2010, uma bomba colocada sob a Toyota Hilux de Rogério explodiu, em plena Barra da Tijuca, matando Diogo, então com 17 anos.

No ano passado, ao ser procurado por um grupo de fãs da escola, Rogério decidiu homenagear o filho e retornar à Mocidade.

Faltando 27 dias para o Carnaval de 2014, ele e um grupo de seguranças se trancaram numa sala com a diretoria. Presidente havia 12 anos, Vianna foi afastado.

RESGATE

A escola ficou em nono lugar. Já na Quarta-feira de Cinzas começou o planejamento para 2015. A primeira medida foi contratar o carnavalesco Paulo Barros, campeão pela Unidos da Tijuca.

Depois, colocou em dia os salários. Em julho, se reuniu com os diretores de ala e avisou: “Vou dar o que vocês precisarem. Agora, quero nota dez. Quem tirar 9,9 está fora da escola em 2016”, disse.

Todas as decisões da escola passam por Rogério. Aprovou a contratação da cantora Cláudia Leitte como rainha de bateria e o aumento da participação da comunidade no desfile deste ano.

Das 32 alas, só 13 são comerciais, nas quais as fantasias são vendidas para indivíduos ou empresas. Em 2014, eram 25.

“Viemos resgatar a Mocidade”, diz Pacheco.