ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Chuva, suor e cerveja. E muito xixi nas ruas. A invasão dos blocos abriu alas para um grupo de foliões ganhar mais evidência no Carnaval de São Paulo: o dos mijões.
“As pessoas querem se divertir, beber e fazer xixi. É Carnaval, mas é muito constrangedor dar de cara com um pipi desconhecido”, disse a relações públicas Maria Fernanda Narciso, 25, que curtia o bloco Sargento Pimenta, no Sumaré, na zona oeste de São Paulo, que arrastou uma multidão na tarde de sábado (7).
Um jardim recém-plantado na rua Alves Guimarães foi destruído pelos mijões. Latinha de cerveja na mão, um rapaz de tênis cano alto vermelho, bermuda xadrez e camiseta branca da Hollister não quis papo com a reportagem. Ao ser abordado, se saiu com esta: “Pô, cara! Não deu para segurar. Foi mal aí.”
Foi mesmo. Que o diga o casal Thaina Barbosa, 26, e Silvia Patriota, 46, ambas engenheiras, que passava ali em frente. “É muita falta de educação e um total desrespeito com o próximo”, disse Silvia.
A uma quadra de lá, a praça José Del Picchia Filho transformou-se num imenso mictório ao ar livre, sem distinção de gênero. Conforme o clima de festa esquentava, a turma de mijões ia se despindo de qualquer pudor. Passou, então, a se aliviar na claridade das calçadas.
“Quando acabar a animação, isso aqui vai virar uma grande im
undice”, afirmou Luiza Melo, 25, que trabalha com comércio exterior.
Não deu outra. A chuva veio, e com ela, a fedentina. “Tem muita fila para pouco banheiro. Acho bem difícil atender a todos os foliões”, disse a engenheira Thaina.
Foram distribuídos 560 banheiros químicos ao longo das passagens dos blocos no sábado (7), número reduzido para 465 no domingo (8), segundo a Prefeitura de São Paulo. Ao término da farra, cerca de 800 funcionários fizeram a limpeza das vias.
No Rio, 184 mijões foram multados nos desfiles dos blocos neste fim de semana. –cada um deles em R$ 170.
PATRULHA ‘ANTI-XIXI’
Fora do circuito VIP montado pela banda Gueri-Gueri no Ibirapuera, uma ambulante conseguiu achar graça dos mijões. “Eles só estão regando as plantinhas.” E ainda achincalhou o que considera uma patrulha “anti-xixi”.
“Pelo amor de Deus! Vamos implicar até com o xixi? É Carnaval. Deixa o povo mijar em paz”, disse ela, que se identificou como Valentina de Jesus da Silva, 51, de Cidade Tiradentes, na zona leste.
Na região central, o encontro da rua Martins Fontes com a Álvares de Carvalho virou um grande banheirão aberto. Três garotas, na faixa dos 20 anos, organizavam uma rodinha para que a quarta colega fizesse xixi, em meio ao vaivém de carros e transeuntes.
“A gente perdeu a noção. Banheiro? Sei não”, contou uma delas, que, por razões óbvias, não se identificou.
A menos de 150 metros delas, havia um corredor com dez banheiros químicos na própria Martins Fontes. Detalhe: naquele hora, às 20h37 de sábado (7), sem fila.
“Vivemos numa sociedade muito mal-educada que não sabe lidar com o seu próprio lixo”, disse o fotógrafo Lauro Medeiros, 55. “E dane-se o outro.” Nas palavras da representante comercial Greicy Oliveira, 36, “o comportamento dos mijões é degradante”.
Como escreveu Caetano Veloso na letra da música “Chuva, Suor e Cerveja”, “seja o que Deus quiser”.