DO RIO
Depois de um domingo com desfiles grandiosos, mas pouco empolgantes, a segunda noite na Sapucaí foi marcada por apresentações que contagiaram o público –de Mocidade Independente, União da Ilha, Portela e Imperatriz Leopoldinense–, pela costumeira eficiência da Unidos da Tijuca e por uma decepção: o fraco desfile da campeã de 2013, Unidos de Vila Isabel.
Última escola a passar na avenida, a Unidos da Tijuca homenageou Ayrton Senna. Seu carnavalesco, Paulo Barros, repetiu a fórmula de “alegorias-vivas” que lhe deu fama, com muita gente sobre os carros e interação com o público.
Da comissão de frente, que trazia uma cópia da Mclaren de Senna que acelerava na pista, até o último carro, que “brindava” o público com um banho de espumante (água, no caso) lançados por quatro esguichos, em alusão à comemoração do pódio da F1, a Tijuca mostrou um desfile sem erros e com seus integrantes cantando o samba na ponta da língua. Credenciou-se a voltar no sábado das campeãs.
Do mesmo modo, a sempre popular Portela, maior vencedora do Carnaval carioca, mostrou ter se recuperado de sucessivos anos de má administração e pouco dinheiro com um desfile bem arrumado, ainda que sem inovações.
“O gigante da Portela despertou”, disse o carnavalesco Alexandre Louzada. Ele fez referência ao penúltimo carro da escola, uma estátua verde e amarela de 18 metros, a maior da história da Sapucaí, que subiu e descia.
O carro representava a onda de protestos que varreu o país, mas serviu para ilustrar a apresentação da Portela, luxuosa e com carros bem acabados, representando a avenida Rio Branco da origem como porto de escravos a palco de manifestações, passando por teatros e cinemas.
Já a Imperatriz tinha um trunfo que faria mesmo o mais fraco dos desfiles levantar as arquibancadas: seu enredo sobre o ídolo flamenguista Zico.
A farra começou antes mesmo de a escola iniciar seu desfile, quando um de seus puxadores de samba começou a cantar “Parabéns pra Você” para o ex-jogador, que completava 61 anos. Continuou com o hino do Flamengo entoado pelo público –ou, pelo menos, por boa parte dele.
Além de familiares e companheiros do time rubro-negro como Júnior e Raul, até adversários históricos, como o ídolo vascaíno Roberto Dinamite, atual presidente do clube, estavam a postos na concentração para homenagear Zico. O desfile da Imperatriz foi prejudicado por problemas em seu imenso abre-alas, que travou logo no início da avenida, causando um buraco na evolução da escola.
Outros carros também deram trabalho antes de entrar na Sapucaí e, como resultado, a escola precisou correr para não estourar o tempo.
Também problemática foi a apresentação da Vila Isabel, cuja desorganização e derrocada econômica fez com que a agremiação desfilasse com carros mal acabados e alas com fantasias incompletas –dez delas só receberam parte dos adereços já na concentração, assim como a rainha de bateria, Sabrina Sato, cuja fantasia chegou em cima da hora.
Com enredo dedicado a Pernambuco, o desfile homenageou também o carnavalesco Fernando Pinto, ícone da agremiação nos anos 80. A comissão de frente da escola, assim como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, tinham fantasias futuristas, em alusão ao samba “Ziriguidum-2001”, de 1985, ano em que se sagrou campeã.
A bateria da verde e branca deu um espetáculo à parte, com direito a sanfona e bossa de forró nas paradinhas. Sua rainha foi a atriz Mariana Rios, que, diferente de outras rainhas, que apelaram para fantasias com tule cor da pele bordado, o chamado “nude”, para esconder imperfeições, entrou com barriga, pernas e braços de fora.
Desfilar depois da apoteótica apresentação da Mocidade era tarefa ingrata, mas a União da Ilha também conseguiu boa resposta do público com seu enredo que tratava do universo infantil, apesar de suas visíveis limitações orçamentárias.
Suas alas e carros alegóricos reproduziam brinquedos e brincadeiras de criança, além de personagens infantis de ficção, de Pinóquio aos bonecos de “Toy Story”. Na comissão de frente, em formato de caixa de brinquedos, dois bailarinos faziam acrobacias incríveis apoiados em hastes elásticas.