“Ei, você aí! Me dá vinagre aí, me dá vinagre aí”. Não se assuste se ouvir, nos blocos de Carnaval do Rio, marchinhas tradicionais parodiadas com letras sobre manifestações de rua.
É que uma turma aproveitará os cortejos dos próximos dias para, entre plumas e paetês, protestar contra o status quo da cidade.
“Quem não chora com bomba. Segura, meu bem, a pimenta. Lugar quente é na caçamba, da PM truculenta”.
Um grupo criou, em janeiro passado, o movimento Ocupa Carnaval.
A ideia é levar para os blocos panfletos com 14 paródias de marchinhas. Nas letras, temas dos protestos que tomaram as ruas a partir de junho, como “não vai ter Copa”, violência policial, aumento das tarifas dos transportes públicos e as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
A clássica “Maria Sapatão”, por exemplo, ganha contornos de crítica com a letra em alusão à política de ocupação das favelas do governo Sérgio Cabral (PMDB). “Lá vem o batalhão, batalhão, batalhão. De dia é UPP. De noite, caveirão.”
A proposta de tarifa zero nos transportes e o “roletaço” —ação de manifestantes que incentivam que trabalhadores pulem as catracas como forma de protesto contra o preço das passagens— estão contempladas na paródia da marchinha carnavalesca “Mamãe eu quero”.
“Tarifa zero. Tarifa zero. O imposto é quem vai pagar. Pula a roleta, pula roleta. Pula a roleta que eu também vou pular”, diz a letra da paródia.
O Ocupa Carnaval nasceu da reunião de movimentos sociais e artísticos, blocos de carnaval e coletivos de mídia alternativa do Rio.
Entre os nomes que deram partida no movimento estão o Comitê Popular Copa e Olimpíada, que acompanha os problemas aliados à preparação da cidade para os dois eventos esportivos.
E o bloco “Nada deve parecer impossível de mudar”, que ganhou notoriedade durante a campanha de Marcelo Freixo (PSOL) à Prefeitura do Rio, em 2012, e por comparecer a manifestações populares de junho.
Participam ainda os grupos Reage Artista e Ocupa Lapa, de intervenção artística urbana, a chamada “Desliga dos blocos”, que reúne os blocos que saem sem autorização da prefeitura, e coletivos de mídia alternativa, como Rio Na Rua e o Vinhetando.
“Foi uma criação coletiva. Várias pessoas que participavam das manifestações buscavam uma forma de trazer o clima lúdico do carnaval para a reivindicação de direitos. Foi daí que surgiu o Ocupa Carnaval”, afirma Tomas Ramos, 30, membro do bloco “Nada deve parecer impossível de mudar”. (LUCAS VETTORAZZO)